Pular para o conteúdo principal

fAlO SoZiNHa


… falo sozinha na rua… porque gosto de emitir palavras ao nada e para ninguém… enquanto deambulo pela cidade assusto-me com a uniformidade da geografia habitada e encanto-me com as diversas paisagens humanas alocadas… lanço sons inaudíveis ao vento no alto-falante do meu corpo… dou pausa nos meus passos e em silêncio gritante escuto a Lisboa barulhenta perniciosamente… as badaladas do sino demarcam o tempo das horas no pretérito-presente e eu balbucio frases desconexas com os olhos da santa que repousa no miradouro de Alfama… um transeunte qualquer me pergunta se estou escrevendo um diário… sem levantar a cabeça, respondo: - humrum!... os itinerantes anônimos observam desconfiadamente a minha escrita solitária naquela praça de seres humanos invisíveis para as pessoas privilegiadas na vida… adentro a pequenina igreja enquanto lá fora a banda do PS toca uma música que me remete ao Moulin Rouge do Lautrec… sento novamente no largo dos indivíduos heterogêneos indesejáveis homogeneamente… um moço bonito do partido interessadamente oferta-me uma rosa vermelha… a pomba-gira que habita em mim pede uma champagne e um cigarro… cheiro a flor sem cheiro nenhum… inodoramente acaricio as suas pétalas queimadas do sol… levanto-me e sigo distraidamente falando sozinha sob a sinfonia desritmada da sirene do corpo de bombeiros…

Violeta Serena
Lisboa, 26 de setembro de 2017

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

bUcEtA-FLoR

pousa a mão na minha buceta  acariciando os pequenos e grandes lábios em forma de  flor desabrochando  entre os seus dedos à espera dos seus lábios...  beija todas as terminações nervosas da  minha buceta e faz poesia terna com a sua língua nas paredes úmidas que abrigam o meu ponto [G] de amor...  cheira toda à extensão da minha buceta, como se fosse pétalas de mistério, respira os segredos de mim guardados no meio das minhas pernas para ti...  Violeta Serena Florianopólis, 29/12/2018 Foto: Maíra Zenun

sOm dE CuRa nA CoNeXão dO aMoR

      o som de cura sorveu as paredes do mercado ficou dedilhado no meu corpo beijou os poros mais invisíveis da minha pele nua...   o sol nascente reluziu nos meus olhos raiou na noite do céu da minha boca criou ondas de encantamento no meu estado de poesia...   o encontro da madrugada transbordou conexão de amor em toda a extensão do meu eu musealizei no museu de mim o abraço na esquina sob o amanhecer...   luZgomeS Belém, 06/06/2023 Para Jonathan Ferr        

cInzA eM SaLVaDoR

l endo o som do vento  vou caminhando pelas trilhas d’águas das ruas quase desertas sentindo cada pedacinho do meu corpo negro espraiando-se na paisagem uma imagem secular  de homens negros pescando sobre uma pedra encanta o meu olhar o sol se esconde calorosamente  por trás das nuvens o Seu Mateus Aleluia cantou: “na linha do horizonte tem um fundo cinza” é um dia nublado em Salvador  [e] sigo caminhando pela cidade  encontrando a poesia nos detalhes… luZgomeS Salvador, 19/02/2024