Rua
da Palma… rua de transeuntes constantes… fixos e passageiros… rua de comércio
imigrante… rua de sons diversos e cheiros inodoramente insípidos… rua de gentes…
rua de pessoas desconhecidamentes conhecidas… rua de encontros desencontrados
ou não… rua de afetos momentâneos ou duradouros: como saber? … E num dia desses
na Rua da Palma duas retinas se cruzam… Miram-se e ela acredita ser apenas mais
uma troca de olhares efêmeros no cotidiano da cidade… Segue o seu caminho para
continuar as suas compras… Para não perder o hábito, caminha pelo passeio
olhando as vitrines das lojas chinesas… diverte-se vendo os objetos made in China… Entra no supermercado, equivoca-se nas compras… Revolta-se com
a sua própria desatenção… Resignada, olha a nota dos produtos comprados
coloca-a no bolso e mais uma vez pega a calçada da Rua da Palma, que lá na
frente se transformará na Avenida Almirante Reis… Porém, para sua surpresa,
novamente aquela retina cruza-se com a dela… Coisas do destino? Não sabe… Quase
nunca acredita nessa história de destino…. Isso a cansa!… É fantasioso demais
para alguém como ela que acredita nessa única existência… No entanto, sabe que
há coisas que fogem ao campo da razão e não tem explicação cartesianamente
lógica que explique… O sorriso invade os seus lábios e a reciprocidade do
sorriso a encanta… Aquele outro, aparentemente europeu nórdico em seu olhar e
ela aparentemente africana das ilhas no olhar daquele outro… descobrem juntos que
são seres atlânticos do cone sul… O diálogo ocorre suavemente entre sorrisos e
ações práticas… Encontram-se minutos depois… conversam com carinho e intimidade…
ela ouve mais do que fala… ultimamente exercita e aprimora a sua escuta… Beijos
de línguas atlânticas são trocados na outra do margem do Atlântico sob a beleza
do rio-mar no ritmo da “querida fantasia” música da África que não conhece, mas
a qual pertence… Nesse momento lembra da frase dos poetas e apenas deseja “[…] movimentos de ponto-e-vírgula para ter clareza naquilo tudo que
é… era… será!? …”
Violeta
Serena
Lisboa
20 de fevereiro de 2016
Comentários
Postar um comentário