… falo sozinha na rua… porque gosto de emitir palavras ao nada e para ninguém… enquanto deambulo pela cidade assusto-me com a uniformidade da geografia habitada e encanto-me com as diversas paisagens humanas alocadas… lanço sons inaudíveis ao vento no alto-falante do meu corpo… dou pausa nos meus passos e em silêncio gritante escuto a Lisboa barulhenta perniciosamente… as badaladas do sino demarcam o tempo das horas no pretérito-presente e eu balbucio frases desconexas com os olhos da santa que repousa no miradouro de Alfama… um transeunte qualquer me pergunta se estou escrevendo um diário… sem levantar a cabeça, respondo: - humrum!... os itinerantes anônimos observam desconfiadamente a minha escrita solitária naquela praça de seres humanos invisíveis para as pessoas privilegiadas na vida… adentro a pequenina igreja enquanto lá fora a banda do PS toca uma música que me remete ao Moulin Rouge do Lautrec… sento novamente no largo dos indivíduos heterogêneos indesejáveis homogeneamente
... aqui é o lugar no qual posso ser poeta-escritora|escritora-poeta sem ter de passar pelo crivo do mercado editorial com todos os seus critérios e princípios de exclusão! ...