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Mostrando postagens de dezembro, 2020

a LiBeRDaDe dO aMoR e dO aMaR

  a liberdade do amor e do amar... fez-me olhar para dentro e sentir amor por esse meu corpo de mulher preta... porque preterimentos de todas as ordens presentificaram-se em minha vida... mágoas cristalizadas infectaram o ar das minhas emoções... as jaulas da insegurança encarcerou-me por muito tempo nas celas das migalhas de qualquer anunciação ilusória de carinho...   a liberdade do amor e do amar fez-me cultivar o meu amor interior como um ato político para a libertação do eu-nós... o amor pode sim, ser cura, como já nos orientou uma mais velha... o amor individual e coletivo, foi a trilha a qual decidi cruzar... amar cada pedacinho desse meu corpo negro é exercício cotidiano na frente do espelho...   a liberdade do amor e do amar faz-me massagear os fios dos meus cabelos crespos... acariciar com delicadeza nariz e lábios... admirar as minhas pernas, parte do meu corpo que sempre gostei... beijar os meus olhos na cegueira da luz solar... brincar no ar com os  meus pequeninos

eSCRiTa ErOtIZaDa

saibam de uma vez por todas:  escrevo para mim e por mim... a escrita me cura... me purifica... me reenergiza... me acolhe... afirma-me que sou mulher delicada... bruta... frágil...  forte... a escrita me mostra os caminhos do  autocuidado e do autoamor...  a escrita leva-me a mergulhar nas águas barrentas e turbulentas do meu ventre... a escrita é o  lugar libertador do meu eu-fêmea-preta sem máscaras sociais... a escrita é o meu espaço seguro e confortável de viver... a escrita restitue a minha humanidade desumanizada pelo racismo e machismo... a escrita permite-me não me tornar uma morta-viva sem esperança na vida... a escrita grita nos meus ouvidos que não sou um pedaço de carne à venda para  ser  consumida predatoriamente... a escrita autoriza-me a   ser uma concha-castelo e me protege dos  homens  estraçalhadores de estranhas com seus tridentes do desamor!...  a escrita apresenta ao universo as minhas  feridas abertas...   a escrita elimina a solidão dos meus seios e oferta-me a

cArmEsIm

  acordei em outra dimensão de mim corri para o alto sem fim [e] bordei flores de esperanças nas paredes rugosas das montanhas desenhei peônias… dálias e violetas… a montanha floresceu de amor a nuvem cinza circundante dos montes e picos desapareceu diante da efemeridade da beleza floral o firmamento se coloriu para mim como cúmplice dos meus desejos mais nobres no topo da montanha olhei para baixo e contemplei o rio azul translúcido enfeitado com pétalas de aconchego o inseto kermes carmesim sobrevoava as pétalas seguro de toda sua fragilidade o vento forte acariciava os meus ouvidos com a sinfonia do invisível diante daquela imensidão do singelo me acolhi no útero da terra… luZgomeS/Violeta Serena Belém, 01 de novembro 2018 fOtO: Ilha de Gorè/Senegal  

cEntEnÁrIO dO rEInO dE XAnGÔ

  a centenária ancestralidade guiadora da minha existência levou-me ao encontro de mim… sentada naquela platéia, sem roupas luxuosas de Ekedi, mas exibindo o meu vestido descolado do brechó lisboeta, observei aquele xirê no templo de Xangô como de fora e de dentro… o afastamento necessário para a descoberta do mundo fez-me renascer como uma rocha florida nas águas deslocadas das minhas trompas… mergulhei nos arquipélagos do meu útero para remapear o meu ser na luminosidade da argila negra... neguei… excluí… silenciei… desapeguei… mas não esqueci… a menina da beira do paraguaçú ainda reage ao alujá da justiça e sabe curvar-se diante do machado que rasga as pedras das injustiças… não entendi o porquê enquanto filha de Nanã e Omolu fui levada a um reencontro com Xangô… pensei: - sou dessas pessoas dada à alegria do encanto de viver! e Xangô para mim é isso: a alegria presentificada em fogo de fúria na realeza… escavei as memórias da minha matéria… rememorei momentos de festas e afetos n

mUrO FRaGMeNTaDO

  os retalhos sobrados da inteireza do que já foi aninham-se lado a lado numa sutura desencaixante procurando tecer um muro de pedaços fragmentados desmancha-se na solidez de uma parede pintada... luZgomeS/Violeta Serena Buenos Aires/Argentina, 01 de janeiro de 2020.  

cAlmArIA dE SoLiTuDe

  a quietude serena desses pedaços mulher caminha inteira por vielas desconhecidas de mãos dadas com a solitude de calmaria... luZgomeS/Violeta Serena Buenos Aires/Argentina, 29 de dezembro de 2019

mOvImEntO

  através da vitrine do tempo observo o mundo das águas banhando as minhas lembranças de algum lugar que não está em mim... ruídos de motores terrenos estremecem o asfalto líquido de transeuntes inomináveis... nesse processo observado nas idas e vindas das minhas memórias de maresia permaneço em movimento nos diferentes cais de rotas oscilatórias... luZgomeS/Violeta Serena Cacilhas/Portugal 06 de agosto de 2019

a SoNHaDorA

  caminhos fecham-se em deslocamentos com nuvens cinzas... o sol parece não poder ultrapassar as vias estranhas nos tempos de trevas... enquanto o céu não se abre ao ano novo ... um corpo dolorido na sarjeta da terra rasteja pelas esquinas em busca de aconchego nos braços do invisível... tomada pelo cansaço dos sete equívocos humanos a matéria física adormece na encruzilhada da desesperança... inconsciente no flagelo do sono, o pedaço de carne humana descartado na rua do desamparo revive a sua memória ancestral numa festa de terreiro... No xirê, ela avista Ogum pisando no Àiyé,  com sua dança rasgando o asfalto e as linhas de ferro com sua espada tecnológica de consolo amoroso... como pai que não abandona sua filha em períodos de janeiro, Ogum abraça e dança com aquele corpo rejeitado pelos vinte e um olhos do descaso...nesse instante de contemplação do abraço de amparo  a sonhadora tem certeza que Ogum comeu inhame assado com dendê e feijoada na estrada do Axé!... luZgomeS/Violeta Ser

bIsAp dE DaKaR

o suco de bisap escorreu pela minha  garganta seca umedecendo coração...ovários... útero... aquele sabor antigo entranhou-se em meu corpo reavivando memórias existentes  antes de mim... depois de mim...  para além de mim... após conhecer o Senegal quando os meus olhos encontram o atlântico nesse Sul de cá fico encharcada de saudades do bisap de Dakar luZgomeS/Violeta Serena Salvador, 25/12/2020 Foto tirada em Dakar, fevereiro de 2020

cOnstElAçÕEs dE aMoR

  a língua molhada de desejo abrigam as estrelas cadentes transitando no céu da boca lubrificadas pela saliva do gozo... esperando os beijos dos seus lábios abro os meus expelindo constelações de amor em sonho... luZgomeS/Violeta Serena Belém, 01/12/2020

do êxtase do som da doçura da voz da mansidão da fala da delicadeza da melodia da poesia das letras do segredo do chão ancestral das memórias de águas e palhas da leveza das mãos em movimento do retrato das dores de outrora e do agora da calmaria do amor em despedida da beleza de ser e crescer homem preto Zé: encantaria... cantoria... ternura...teoria... paixão em vida!...   luZgomeS/Violeta Serena Para o cantor e compositor pernambucano, Zé Manoel... Belém, 30/11/2020