lá, longe da urbanidade citadina… vivenciando meu
primeiro verão de férias a dois e em família… senti o gosto amargo da saudade…
essa palavra solidificada em sentimento profundo persegue-me ou eu a persigo…
sabe amor, naqueles dias em que todos banhavam-se alegremente na lagoa... eu
ficava ali espreitando e fazendo anotações… confessava ao papel através dos
desenhos das letras o que me afligia… pensava em mim… em ti… e em nós…
contemplava o nosso amor de fogo… amor de vento… amor de calmaria… amor de
partilha… amor de cuidado... esse amor que faz sentir amor em mim e em ti… olhava para dentro de
mim e as cicatrizes da bebê magoada ainda estão expostas, como me disseste um
dia… sei que sou a bruta-flor-menina-grande atormentada pelo abandono…
mirava-te com admiração pela tua generosidade e capacidade de me ofertar amor… proteção…
pelo enlace de aconchego ao dormir… pela cumplicidade do mergulho à dois no
misterioso mar… queria tanto poder te arrancar das geografias do passado… trazer-te
para a moradia do presente… e juntos criarmos uma residência artística dessa
vida qualquer nota de poesias e sons musicais… sabe amor, vejo nossa história
como uma exposição temporária! … tudo bem montado… bastante iluminado… vitrines
sem reflexos… paredes bem adornadas de artes emolduradas… etiquetas devidamente
colocadas… público atento… mas sem verbas possibilitadora de prorrogação… não
somos tão iguais aos nossos pais… desistimos de nós… amedrontamos-nos em nós
mesmos… não fazemos o amor de um “regresso a casa”… e nem de uma "quietude das
águas"… somos a película da vida como ela não é… eu não fico!... e você não
vai!... essa certeza absoluta de férias… dilacera-me!… nessa existência aprendi
que sempre tenho de ir além para melhorar a minha vivência e ser alguém nesse
mundo de ninguém… mas dessa vez queria ficar parada ao seu lado… só isso…
apenas isso… tudo isso… e nada mais…
Violeta Serena.
Brescos, 24 de julho de 2017.
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