… falo sozinha na rua… porque gosto de emitir
palavras ao nada e para ninguém… enquanto deambulo pela cidade assusto-me com a
uniformidade da geografia habitada e encanto-me com as diversas paisagens
humanas alocadas… lanço sons inaudíveis ao vento no alto-falante do meu corpo… dou pausa
nos meus passos e em silêncio gritante escuto a Lisboa barulhenta perniciosamente…
as badaladas do sino demarcam o tempo das horas no pretérito-presente e eu
balbucio frases desconexas com os olhos da santa que repousa no miradouro de
Alfama… um transeunte qualquer me pergunta se estou escrevendo um diário… sem
levantar a cabeça, respondo: - humrum!... os itinerantes anônimos observam desconfiadamente a minha escrita solitária naquela praça de seres humanos invisíveis
para as pessoas privilegiadas na vida… adentro a pequenina igreja enquanto lá
fora a banda do PS toca uma música que me remete ao Moulin Rouge do Lautrec… sento novamente
no largo dos indivíduos heterogêneos indesejáveis homogeneamente… um moço bonito
do partido interessadamente oferta-me uma rosa vermelha… a pomba-gira que habita
em mim pede uma champagne e um cigarro… cheiro a flor sem cheiro nenhum…
inodoramente acaricio as suas pétalas queimadas do sol… levanto-me e sigo
distraidamente falando sozinha sob a sinfonia desritmada da sirene do corpo de bombeiros…
Violeta Serena
Lisboa, 26 de setembro de 2017
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