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O qUE FaLaR...



(Para Zélia Amador de Deus)

Nessa segunda-feira de Exu, estou aqui pensando...

O que falar para homenagear a nossa Zélia amada dos deuses e das deusas?

O que falar para homenagear essa filha de Nanã, a Yabá que também reina no meu orí e nos oferta a lama da vida para adentrarmos ao Aiye e nos acompanha até os mistérios do Orun?

O que falar para essa Herdeira de Ananse, que nos ensina a tecer a teia da resistência com a sua existência de encantamento e enfrentamento?

O que falar para essa menina do Marajó, da linhagem do Bento Amador que ficou em sua lembrança e a inspira na luta cotidiana?

O que falar para essa criadora de um auto que no alto ilumina uma cidade velha com a sua presença bela?

O que falar para essa professora que na minha defesa de mestrado me ofertou um poema coleção de cacos e me aconchegou em seus braços?

O que falar para essa atriz do teatro que em três atos transformou o seu livro num palco?

O que falar para essa ativista estrela guia nos iluminando nas trilhas da cidadania?

O que falar para essa buriladora das palavras que de letra em letra compõe uma melodia falada e deixa a todas nós simplesmente acalmadas?

O que falar para essa intelectual negra do Norte, de leveza forte que emana caminhos de sorte?

Mas eu também penso...

O que te falar nesses dias tão brutos... que mais parece um eterno absurdo... onde não sabemos mais nada sobre tudo...

O que te falar diante dessa nuvem cinza que sombreia toda a América Latina, onde nós negros e indígenas sabemos que estamos na mira há mais de quinhentos e tantos anos dos dias...

O que te falar nessa Amazônia em chamas... que deixam nossos olhos ardendo e o sangue fervendo por dentro...

Zélia, hoje eu tinha tanta coisa para te falar... Mas estou um pouco sem jeito para dizer... Por isso, optei por escrever que nesse dia de festa do cinema negro, ofertamos a cidade das mangueiras o nosso espelho... na busca de um mundo igualmente verdadeiro no qual nossos corpos negros permaneçam vivos e inteiros.

Zélia, você é mulher-pessoa-poema... Presente das Yabás em terras de rios que são mar... E como disse o Akin Firmino, personagem de um livro:

- “Xangô é rei, está pisando aqui comigo e cedo ou tarde a justiça se fará!”


aXé!

luZgomeS
Belém, 11 de novembro de 2019

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