a
centenária ancestralidade guiadora da minha existência levou-me ao encontro de
mim… sentada naquela platéia, sem roupas luxuosas de Ekedi, mas exibindo o meu
vestido descolado do brechó lisboeta, observei aquele xirê no templo de Xangô
como de fora e de dentro… o afastamento necessário para a descoberta do mundo
fez-me renascer como uma rocha florida nas águas deslocadas das minhas trompas… mergulhei nos arquipélagos do meu útero para remapear o meu ser na
luminosidade da argila negra... neguei… excluí… silenciei… desapeguei… mas
não esqueci… a menina da beira do paraguaçú ainda reage ao alujá da justiça e sabe
curvar-se diante do machado que rasga as pedras das injustiças… não entendi o porquê enquanto
filha de Nanã e Omolu fui levada a um reencontro com Xangô… pensei: - sou dessas
pessoas dada à alegria do encanto de viver! e Xangô para mim é isso: a alegria
presentificada em fogo de fúria na realeza… escavei as memórias da minha
matéria… rememorei momentos de festas e afetos no Ilê Axé Ogunjá… imagens singelas e encantadas da minha infância formou o mosaico da saudade… incomodei-me com as
cobranças… senti culpa… senti vergonha… senti medo… pela ausência de anos… pelo
distanciamento da minha terra que sempre habitou as geografias da minha
imaginação e as ruas das minhas veias… mas herdei a impetuosidade daquele
melancólico Recôncavo suspenso no ar e por isso não perco a altivez do olhar
frontal… na coragem do sorriso com as mãos delicadas no rosto, mantendo a esquiva de
espreita… saudei as mais velhas e aos mais velhos… não bati cabeça na
mangueira secular de Xangô… porque trago a raiz de Airá musealizada no sagrado de
mim…
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